quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O suave milagre...Eça de Queirós

Edvard Munch: Criança doente, 1907. Quase chorei quando lí este conto!!É ótimo!!Chama-se " O suave Milagre" de Eça de Queirós, mas adaptado por Malba Tahan...
" Junto à Siquém, num sórdido casebre, vivia uma viúva, desgraçada entre todas.Tinha um filho doente que definhava aos poucos, vencido pelas febres.
O chão era úmido e malsão;não havia alí a mais miserável enxerga.só alguns trapos que serviam de leito.
Na lâmpada de barro, velha e suja, secara o azeite.O grão faltara na arca; cessara o ruído dormente do moinho doméstico.
A pobre mãe, sentada a um canto, chorava.Maldeitada em seu colo descarnado, envolta em farrapos, pálida e tremente, a criança pedia-lhe numa voz débil como um suspiro, que fosse chamar esse Rabí da Galiléia, de quem ouvira falar junto ao poço de Jacó, que amava as criaças, dava de comer às multidões e curava todos os males humanos, com a simples carícia de suas mãos pálidas e esguias.
e a mãe dizi-lhe chorando:
- Como queres tu, filho, que te deixe e vá buscar o Rabí da Galiléia?Obed é rico e tem numerosos servos.Pois Obed, com seus auxiliares, procurou Jesus desde Corazin até o país de Moab, e não o encontrou.Lúcio, o romano, é forte, dispõe de centenas de soldados e tudo fez para encontrar Jesus.Percorreu campos e estradas, desde Hebron até o mar, e não conseguiu avistar o Rabí.Se os ricos e poderosos não conseguiram encontrar o Rabí, como queres tu que eu possa encontrá-lo?
A criança, com os olhos cerrados, repetia baixinho, muito triste:
- Mamãe!Eu queria ver Jesus da Galiléia!
E a mãe, torturada pela angústia, continuou:
- De que me servirá, meu filho, ir procurá-lo?Extensas são as estradas da Síria.Curta é a piedade dos homens.Vendo-me tão pobre e só, os cães viriam-me ladra à porta.De certo Jesus morreu; e com ele morreu, uma vez mais, toda a esperança dos tristes.
Pálida e desfalendo, a criança implorou ainda:
-Mamãe!Eu queria ver Jesus da Galiléia!
Abrindo de vagar a porta e sorrindo cheio de amor, Jesus disse à criança:
_ Aqui estou, meu filho!Aqui estou!
Agora digam, é lindo ou não é?

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